Ensaio

ENCANTOS E DESAFIOS: O LEGADO DAS MAGICISTAS

Dois mágicos andam pela rua enquanto discutem o próximo efeito que vão lançar. “Estou com uma inovação”, diz P.T. Selbit. O outro indaga: “Ora, me conte qual o novo plot que você irá trazer para o mundo mágico”. Selbit prontamente responde: “Criei um número de cortar a mulher ao meio, uma inovação que vai mudar a história do mundo”. O outro responde, com um grande sorriso: “Brilhante, é a primeira vez que o mundo colocará mulheres em caixas”.

Caro leitor, você bem sabe que dia 8 de março é o Dia Mundial da Mulher. Evidente que um blog voltado para a mágica, um substantivo feminino que guia a vida deste que escreve, jamais deixaria esse dia passar em branco. Mas não espere mensagens de “parabéns, mulheres”, tendo em vista que isso soa apenas como um afago para o ego masculino sentir que “está fazendo algo para valorizar as mulheres”.

Neste texto, você descobrirá caminhos para conhecer as mulheres do mundo da mágica, algumas estão na história, outras são contemporâneas, ambas lutam pelo seu espaço em uma arte (mundo) feito para homens. Então, faça um favor: tire um tempo para ler sobre as mulheres, pois quem melhor pode escrever sobre elas do que eu, um homem. Caso não entenda ironia, leia novamente este parágrafo e reflita sobre a -ironia- do destinatário estar no gênero masculino. Infelizmente este texto não é o ideal, pois deveria ter uma mulher aqui escrevendo, trabalharemos para que elas possam ocupar seu lugar de fala o mais rápido possível.

Reprodução da Internet

Sim, é clichê, mas nós precisamos começar esse texto falando de Adelaide Herrmann (1853–1932), aclamada como a “Rainha da Mágica”. Adelaide foi uma ilusionista brilhante e criativa, que continuou a atuar mesmo após a morte de seu marido, que também era um mágico, mas para esse texto ele é menos importante. Adelaide atuou como assistente durante vinte anos, em seguida teve uma carreira de trinta anos atuando sozinha.

Madame Herrmann se destacou em uma época em que as mulheres na mágica eram raras, quebrando barreiras e se apresentando com atos que incluíam tudo, desde escapismos até levitações. É inequívoco que Adelaide foi a base para todas as mulheres mágicas que vieram depois. Trabalhou tanto que fazia apresentações até depois dos 70 anos, vale lembrar que estamos falando de um século onde a expectativa de vida e a qualidade eram bem diferentes das que conhecemos hoje. Adelaide foi uma mulher que precisou tomar decisões complexas em sua vida. Quando seu marido se foi, ela poderia vender o show para Kellar, mas decidiu tocar o espetáculo por conta própria, o que a história nos mostra é que essa foi uma escolha acertada.

De acordo com Jim Steinmeyer, que escreveu a biografia de Chung Ling Soo, que trabalhou com os Herrmann, como uma boa londrina, Adelaide possuía um humor sarcástico, era uma mulher dura e forte. Mas como não ser? Em um tempo como aquele, era necessária muita força para se manter respeitada, e ela conseguiu muito mais do que respeito, Adelaide teve e terá para sempre ADMIRAÇÃO.

Na história, existiram diversas outras mulheres que pavimentaram o mundo da mágica até os dias de hoje. Grandes nomes foram Clementine de Vere, Dell O’Dell, Dorothy Dietrich, Judy Carter e muitas outras. Hoje, em 2024, o mundo tem cada vez mais magicistas, e isso é uma vitória não apenas para elas, mas para a mágica como um todo. Ter mulheres, ter pessoas diferentes, pensando e produzindo arte, faz com que a diversidade e riqueza aumentem cada vez mais. Duas cabeças pensam melhor do que uma, mas duas cabeças plenamente dicotômicas, pensam bem melhor que dez.

Reprodução/Cia. Fundo Falso

No Brasil, nós temos nomes de peso, mulheres que trabalham há anos para levar a mágica cada vez mais longe. Já peço desculpas, pois com certeza não citaremos todos os nomes, fica aqui o registro de que todas são importantes em suas respectivas áreas.

Camila Rivetti é uma ilusionista brasileira que traz tantas camadas em sua arte que é digna de uma ciência à parte. Bióloga de formação, a arte tocou Camila de uma maneira inovadora. Seu interesse pela Dança Livre fez ela modernizar os clássicos da mágica, como, por exemplo, seu ato com Aros Chineses, que traz um foco para o trabalho corporal para além do efeito mágico. Uma mistura à la Klaus Vianna somado a Jeff McBride. De maneira única e criativa, Camila faz parte hoje da Cia Fundo Falso, onde você pode encontrar mais sobre ela e os próximos espetáculos.

Divulgação

No mesmo Brasil, ainda temos Diny Ilusionista, que está na estrada há anos, com efeitos mais clássicos e uma roupagem moderna. Diny é especialista em realizar efeitos do chamado i”lusionismo de pequeno e grande porte”, misturando multimídia e tecnologia em seus números. Ela vem ganhando o público e cativando com seus espetáculos.

Cláudia Guedes, uma grande ilusionista, que atua fazendo shows de Close-Up. Há mais de 10 anos na cena brasileira, Cláudia focou em criar apresentações exclusivas e inovadoras para o meio corporativo. Já participou de diversos programas de televisão e foi campeã do clássico e saudoso “Se Vira nos 30”, do Fausto Silva. Além disso, como uma mente criativa, atuou no quadro “Câmera Escondida” do programa Silvio Santos. E sim, esses programas utilizavam muita mágica.

Reprodução da internet

Diversas mulheres, diversas esferas do ilusionismo. Não existe lugar certo, não existe “isso é ou não é para mulher”. Elas podem, devem e vão tomar todos os espaços. Aos meus confrades do sexo masculino, apenas não sejam “cuzões”, façam a sua parte, mas não tentem fazer a parte delas achando que estão ajudando. (Som do tabu quebrando)

Obrigado, mulheres. Muita força e garra nessa jornada! Que essa data seja um lembrete da necessidade contínua de buscar a igualdade de gênero.

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