Editorial

COMO O TARIFAÇO DO TRUMP AFETA O BOLSO DOS MÁGICOS

Às vésperas de entrar em vigor, em 1.º de agosto de 2025, a tarifa de 50 % anunciada pelo presidente Donald Trump para todos os bens brasileiros embarcados aos Estados Unidos causa apreensão, multiplicando por cinco a alíquota que vigorava desde abril (de 10%). A medida foi confirmada em cartas publicadas pela Casa Branca em 9 de julho, depois que uma ordem executiva de 7 de julho prorrogou o prazo original, justamente para dar tempo de negociação. Mas, segundo a própria ABC News, nenhuma conversa avançou e o pacote de tarifas país-específicas seguirá adiante, com o Brasil no topo da lista das penalidades mais duras, à frente de Canadá (35 %), União Europeia e México (30 %).

No universo da mágica, o impacto será sentido sobretudo nas cartas Bicycle e nos gimmicks distribuídos por gigantes como Murphy’s Magic, que costumam passar por hubs de Miami antes de chegar às lojas brasileiras. Um baralho premium, hoje vendido a cerca de R$ 45, pode ultrapassar facilmente os R$ 60 com a nova taxa, equipamentos de palco fabricados sob encomenda nos EUA, mesas “floating”, ilusões com espelhos, eletrônicos DMX, também sofrerão com as tarifas. Para driblar a loucura de Donald Trump, lojistas e artistas já mapeiam rotas alternativas via Europa ou Ásia (Penguin Magic Hong Kong, Vanishing Inc. Holanda), planejam compras coletivas para dividir contêineres diretos da China e, principalmente, aceleram a produção nacional, Copag e gráficas independentes podem suprir baralhos mesmo que de qualidade menor, enquanto impressoras 3D resolvem gimmicks simples.

Para criadores que vendem efeitos físicos aos EUA, a saída mais rápida é migrar para versões digitais, e-books, apps e vídeos, até que a poeira de mais esta guerra tarifária assente. Vale ressaltar que os produtos de origem chinesa estão em outro patamar. Há algumas décadas, existia uma grande diferença de qualidade nesses produtos, mas isso já não reflete a realidade de hoje, em que grandes marcas têm excelência na produção, como é o caso da TCC, por exemplo.

O presidente dos Estados Unidos deixa claro, em sua carta, que o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro é a razão das tarifas. Contudo, mesmo que esse argumento se some a outras desculpas já usadas, como o caso do Pix e a 25 de Março, é inadmissível que o chefe de outra nação tente interferir no devido processo legal do nosso país. O Brasil afirma que responderá à altura e está correto: a lei da reciprocidade deve ser aplicada neste caso.

A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é superavitária para o país norte-americano, o que só reforça a falta de sentido econômico do “tarifaço” imposto pelo autocrata estadunidense. Indo mais fundo, torna-se claro que o verdadeiro alvo da medida é o BRICS e os países que compõem o bloco, parece que Washington finalmente reconheceu que novos ventos sopram na economia global. Embora seja importante manter uma parceria estratégica com os EUA, o Brasil não deve se submeter a pressões, até porque, desde 2009, seu maior parceiro comercial é a China. Em 2023, as exportações brasileiras para o gigante asiático concentraram cerca de 30,7 % de tudo que o país vendeu ao exterior, enquanto os Estados Unidos responderam por 16 % das importações brasileiras. Abrir ou redirecionar mercados não é um processo simples, mas os números mostram que alternativas já existem.

Para a economia real, o choque é imediato. A cada ano, mais de dez mil empresas brasileiras exportam para os EUA, movimentando desde café e carne bovina até itens de alto valor agregado. Produtores de café de Vassouras, no Rio de Janeiro, já falam em “sobressalto” com a possibilidade de sobra de grãos no mercado interno caso não surjam compradores alternativos, porque um terço do café consumido pelos norte-americanos sai do Brasil. Em setores industriais, importadores correm para embarcar pedidos antes do fim de julho, inflando o preço do frete marítimo e aéreo, ao mesmo tempo, o Itamaraty estuda sobretaxar produtos norte-americanos e abrir linhas de crédito para quem perder margem de exportação.

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