Crítica

JOVEM MÁGICO TEM ESPETÁCULO BOM, MAS QUE PECA PELO EXCESSO

Coisa rara é poder ir a um espetáculo de mágica no teatro, no Rio de Janeiro. Nem sempre o espetáculo é bom, mas devido à carência desse tipo de produção na cena artística, não dá pra dispensar qualquer chance.

Confesso que já estava curioso com o “Jovem Mágico”, desde 2021, quando o alerta do Google trouxe uma notícia sobre este espetáculo do – até então – completo desconhecido no meio mágico Gabriel Montenegro, para o blog Mágica Online

Também preciso dizer que estava receoso, pois Montenegro passa uma certa autoconfiança que costuma ser red flag para um tipo muito específico de mágico, que nem sempre consegue traduzir isso em resultado em cena, se é que me faço entender.

Mas para minha surpresa, do início do espetáculo um pouco atrapalhado por um problema no número de abertura, até o final, com mensagem estilo coach, de gosto duvidoso, sobre união do Brasil, Gabriel mostrou carisma e uma empatia genuína em cena, com escuta ativa e capacidade de improviso, pouco vistos na mágica brasileira.

Foto: reprodução

Pouco vistas também foram as piadas e textos batidos que são usados por mágicos à exaustão. Gabriel apresenta números e textos com personalidade, como o caso da produção do ursinho de pelúcia, usando o balde clássico e depois uma variação do baralho invisível, com cartas brancas, feita com dois espectadores. Ponto super positivo.

Tirando uma certa repetição de alguns textos introdutórios das mágicas e mesmo de alguns efeitos, é visível a preocupação em fazer um espetáculo decente, com apuro estético. O resultado geral é bom, mas não ótimo. A mágica está bem representada em cena, mesmo com o número da bandeira do Brasil.

Falta uma costura, uma amarração, além de motivos para que as mágicas aconteçam em cena. E são muitas mágicas. Olha, eu não cheguei a contar, mas não duvido que o jovem mágico Gabriel Montenegro tenha feito algo perto das 30 mágicas anunciadas no release do espetáculo. Se não fez mais. Peca, por isso, pelo excesso. Nesse caso, menos seria muito mais. 

Faltou também uma modulação e um balanço entre os números apresentados, muitas vezes repetindo efeitos e mudando somente a dinâmica e métodos, mas o mesmo tipo de mágica acontecendo.

Foto: reprodução

Imagino que deva ter dado algum problema para a caixa da previsão não ter ficado pendurada e visível a todos da plateia ao mesmo tempo, já que colocar a caixa no meio do corredor da plateia, diminui consideravelmente a força do número, que por si só é um ótimo finale.

Porém, esse é um dos exemplos de efeitos que se repetem e canibalizam a mágica, diluindo o assombro, pois logo depois dessa previsão quádrupla, que poderia muito bem ser o fim, vem um outro número que combina escapismo com previsões impossíveis que se revelam num VT exibido no telão, que também é bastante forte, mas acabou de ser visto antes.

Definitivamente a sequência dos números de mágica precisa de ajustes. Aliás, 50% dos números apresentados poderiam simplesmente não estar no espetáculo. Não que sejam mal executadas, ao contrário, quase não tem vazamentos e erros técnicos na execução, porém os efeitos se repetem. O ponto positivo aqui é que é muito mais fácil retirar do que acrescentar. 

Embora tenham poucos erros, Gabriel Montenegro precisa de uma limpeza em alguns números, pois algumas cargas e descargas ficam visíveis Os assistentes também precisam de um pouco mais de agilidade e atenção no que acontece no palco/plateia, mas nada que um diretor fora de cena não resolva.

A trilha sonora serve ao espetáculo, mas a iluminação precisa de atenção, principalmente nos momentos das chamadas grandes ilusões.

Do jeito que está, “Jovem Mágico” já é um espetáculo de mágica melhor do que 80% do que é apresentado no Rio de Janeiro, mas se cortar a metade dos números apresentados e tiver uma boa direção, já pode ir para São Paulo disputar com os 20% melhores do Brasil.

Aliás, o que faria muito bem, não só a este, mas aos espetáculos de mágica brasileiros, de uma forma geral, seriam temporadas maiores.

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