Crítica

QUANDO TEATRO INFANTIL ENCONTRA BOA MÁGICA O RESULTADO É “KADABRA”

Cada vez mais estou convencido de que a mágica precisa pegar carona em outras manifestações artísticas, para que ganhe popularidade no Brasil, enquanto gênero de arte. O teatro infantil é perfeito para isso, porque é uma excelente forma de apresentar o ilusionismo para as novas gerações, criando desde pequeno o gosto pela mágica.

O maior mérito do espetáculo “Kadabra Show de Mágica” do ilusionista e ator Diego Costa é justamente esse, apresentar a mágica às crianças de uma forma respeitosa, atrativa e divertida, proporcionando entretenimento não só para as crianças, mas também para os adultos, com criatividade.

A trama infantil inspirada no universo bruxo de Harry Potter é um texto do próprio Diego, que também é ator e diretor da peça. Os números de mágica são inseridos dentro da narrativa do espetáculo, o que vai além de uma apresentação somente pelo efeito, como vemos geralmente quando vamos ao teatro ver mágica. Ponto para a produção.

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Tirando um momento ou outro, como o do vôo do “Zigblue”, feito com a Bola Zombie, que depois precisa de uma mudança de método suspeita no decorrer da ação, para que haja uma continuidade do efeito de animação do objeto, a parte mágica do espetácucclo está bem satisfatória.


Diego e Muzy, apresentam o baralho elétrico de uma forma incomum, que valoriza o efeito das cartas parando de cair no ar, sem ser usado como gag, como é apresentado costumeiramente.

O tendão de aquiles do espetáculo é justamente a parte teatral. Tem muita coisa para acontecer em apenas 60 minutos, então há uma certa correria em tudo, prejudicada ainda mais por falta de articulação da fala do elenco.

Trilha sonora e figurino são muito bons e a iluminação não atrapalha o espetáculo, exceto pela necessidade de afinação de contras e da geral, para que os efeitos que precisam de fios, eles fiquem de fato invisíveis.

O cenário precisa de atenção, principalmente os candelabros flutuantes. pois tem uma estante modular de plástico em cena, que não combina com a atmosfera mágica criada pela produção. Um certo desleixo que não é compatível com o primor da produção.

Diego Costa, que faz uma dobradinha de personagens, enverga melhor o protagonista Félix, por conta de seu “physique du rôle” de galã, do que o velho mago Mérlin, que apesar de fazer uma homenagem velada ao mágico carioca Bob Ricardo, acaba sendo caricato em alguns momentos.

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Romulo Muzy apresenta seu personagem Juninho, sucesso no Tik Tok, mas que nasceu mesmo para os palcos e cativa as crianças. Muzy também faz dobradinha e tem uma participação menos notável como o vilão Mordon, com a fala tocada em playback, uma máscara grotesca e um timbre de voz incompatível para um antagonista. É impressionante como as crianças não choram.

Ambos são mágicos experientes e tecnicamente bons no que se propõem a fazer em cena, com destaque para Diego Costa, que acumula funções na montagem e de forma generosa e genuinamente humilde, não precisa exibir seu virtuosismo como manipulador, em cena, para mostrar o bom mágico que é.

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Raquel Abreu, a única que não é profissional da mágica no elenco, tem a melhor performance como atriz, inclusive com articulação da voz – embora possa projetar um pouco mais – e não deixa a desejar na execução dos números de mágica que participa, como a produção das caixas, mostrando versatilidade.

Os três fazem uma apresentação coletiva de uma versão jumbo do número “A vermelhinha”, que ficou muito visual e bem adaptado para o teatro.

No geral, a mágica está muito bem representada em cena, mas o espetáculo precisa de uma atenção maior, principalmente quanto a direção. Mesmo assim, é uma boa opção de entretenimento para pais que desejam proporcionar uma experiência diferente em teatro infantil para a criançada ou um primeiro contato com a mágica.

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