Depois de um período de hiato em cena, fiz meu show solo, Personalíssimo, que aconteceu no dia 15/11/2025 na Timing House.
Tecnicamente poucos erros aconteceram e nenhum deles de forma crítica a ponto de afetar o ritmo negativamente. O fio condutor do espetáculo está explícito no nome: Personalíssimo, uma performance pessoal e minimalista de close up – mágica para ser vista de perto – altamente centrada no baralho, que é uma grande parte do que estudei durante toda minha vida.
Embora houvesse uma simulação de textura por meio da introdução de outros elementos que não o baralho, ainda assim sinto que em alguns momentos fez falta ter uma variação maior de efeitos.
O show foi criado com a intenção de ter quatro sequências com o baralho intercaladas por números com outros objetos, visando criar uma sensação de variedade. As séries de cartas eram organizadas assim: “escolha uma carta”, “nas mãos do espectador”, “homenagens” e “coincidências”. Para cada uma dessas sequências, como também para os efeitos usados como transição, houve uma justificativa textual, o que até certo ponto funcionou.
O show em si teve certa coesão, mas acredito que os ensaios tenham sido insuficientes ou o nervosismo se sobrepôs ao que tinha sido ensaiado. Senti o ritmo atravancado e isso me incomodou.
Logo no começo, optei por um número que tenho feito com certa regularidade. Era o terceiro da apresentação e o segundo com o baralho, deu errado, as cartas caíram no chão. Fiz a opção de pegar um segundo maço de cartas, achei que seria uma quebra menor do ritmo do que pegar o baralho do chão, ou, nesse caso, o espectador participante pegar, uma vez que as cartas caíram em cima da pessoa. Deu certo, apesar de algum constrangimento, o show seguiu sem maiores percalços e tudo, aparentemente, foi esquecido. Houve, no entanto, adaptações técnicas, o baralho que peguei estava preparado para que na terceira sequência não houvesse a necessidade da montagem de Stacks – ordenação necessária para que um número seja executado – e eu pudesse aproveitar melhor os Off Beats – momento em que ocorre um relaxamento da plateia, permitindo a execução de técnicas. Felizmente os stacks usados eram simples e já estou habituado a montá-los uma vez que faço toda a sequência de maneira impromptu (ou seja, sem ter preparado antes) separadamente.
Ao fim do show, aplausos de pé. Confesso que não resisti: forcei. Ao final da minha rotina de coincidência total “estourei a garrafa de champanhe” – técnica proposta por Dani DaOrtiz para estimular os aplausos em pé – e levantei, deu certo, nada demais a acrescentar aqui somente uma nota a mais dentro da performance.
Essa seria uma análise ok do show, mas ainda falta algo, assim como faltou na apresentação. Durante toda a semana me perguntei o que seria, até que ontem, 20/11, me dei conta: não foi uma boa performance, ela funcionou, duas coisas muito diferentes entre si.
O espetáculo tinha uma característica muito forte, ele é autocentrado, de novo, isso é uma coisa refletida no título. E foi insuficiente para gerar algo que fosse verdadeiramente bom. A performance foi mais uma prova para mim mesmo de que eu conseguiria montar uma apresentação eficiente em um espaço curto de tempo, mesmo depois de estar afastado há algum tempo dos palcos. E sim, o show foi eficiente, mas não bom. Gerei assombro, mas o que mais?
E essa é uma verdade que tenho para mim. O assombro por si só não é suficiente para gerar uma boa mágica. O assombro é a premissa básica da mágica, sem ele não a temos. Portanto é necessário ter algo a mais para que a performance seja boa.
Minha base teórica sempre foi a escola espanhola. Essa forma de pensar reflete muito do que eu faço até hoje e, talvez por isso ser uma autocrítica, atualmente eu enxergo a maioria da produção de conteúdo da mágica de grandes nomes (por exemplo, Dani DaOrtiz) como uma demonstração de mágica autocentrada que tem o objetivo de aumentar o assombro e a sensação de impossibilidade, falhando na tarefa de elevar a mágica para algo além do impossível. Ressalto que este parágrafo não tem a intenção de ser uma crítica ao Dani, que possui materiais geniais, mas sim uma reflexão da necessidade cênica além do assombro. Essa ênfase no aumento do assombro, ao meu ver, é um resultado de como a sociedade se estrutura atualmente, onde o modelo exige uma produção constante de conteúdo que fatalmente acaba no decaimento da qualidade do produto.
Enfim, sobre meu show posso dizer: faltou profundidade, sobrou ensimesmamento. Funcionou, mas ser funcional não significa ser bom, significa que atingiu os parâmetros mínimos para ser considerado competente, e isso para a mágica, é muito pouco.

